Poema escrito pela minha mãe
Sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém, de afastamento de um lugar.
A saudade é um sentimento raro e peculiar,
palavra impar, sentida e vivenciada pela nossa nação.
Usada sempre com um solene lirismo.
Enaltecida com grande mestria no nosso fado e outras melodias;
usada como mote em lindas e ricas poesias.
Epopeias, declamações, representações,
e outras filosofias de pensamento.
Dizem os eruditos, os letrados e os mais iluminados,
que ao longo dos tempos longínquos e há muito passados;
a palavra saudade nasceu,
da palavra latina “Solitãte” , «solidão».
Diz a lenda, o mito e a nossa narrativa oral,
que a palavra saudade , o mote,
o sentimento e o grande conceito,
surgiu aquando do período dos Descobrimentos Portugueses.
A palavra saudade narra que os homens partiram,
para o gigante mar turbulento, inexplorado e desconhecido.
Muitos à deriva, esmagados pelas fortes correntezas e tempestades,
receosos dos mitos e lendas narrados por tantos navegantes.
Foram em busca duma vida mais afortunada.
Partiram para lutar contra a morte da fome da terra.
Com a fé, crença e esperança.
Que iam encontrar um melhor destino.
Conforme foram passando os dias, meses e anos.
Lembravam -se das suas mães, mulheres, filhos e filhas,
que tiveram de deixar para trás.
Muitos não tiveram oportunidade de ver crescer.
Sentiam a ausência da sua pátria,
a terra que toda a vida conheceram,
Que tanto amaram e desamaram.
Acredito que ao fim de tanto tempo,
a vislumbrar o imenso azul do mar.
Viriam breves esboços dos rostos das suas amadas.
Ouviriam os ecos das vozes e risos das suas amadas,
os sons já distorcidos dos risos das crianças.
Talvez sentissem poeticamente os cheiros dos seus corpos.
Flutuo até aqueles portos e mares,
donde embarcações partiram.
E vejo dum lado um grande mar salgado,
e nas areias vejo e sinto as suas incontáveis lágrimas que me tocam nos pés,
daquelas, mães, mulheres envoltas nos xailes.
Imagino os seus longos e intermináveis anos,
a olharem o grandioso mar.
E o que terão chorado, e clamado a Deus;
Ás vezes que terão sufocado na solidão,
a esmagadora tristeza nos seus olhos.
Para que o majestoso mar,
devolvesse os seus amados.
E o que sentiram de tão profundo e esmagador,
tantos homens e tantas mulheres,
aquele grande sentimento,
que nasce nos nossos genes,
para sempre a dita Saudade.
Quais seriam as suas preces a Deus.
Mares e mares de lágrimas,
Para pôr fim a derradeira Saudade.
Catarina Leitão.