Oração da Coroa Mística da Rainha do Santo Rosário

O teu bendito ventre, Senhora, é como um monte de trigo cercado de lírios. Invoco a Rainha do Santo Rosário, aquela que contém o Incontível, nela, a unidade, templo da Santíssima Trindade, Cidade Mística de Deus.

Guarda no coração e no útero, ó Virgem, o Verbo, porque pelos ouvidos entrou em ti O que há de nascer de ti; Verbo é Ele, e é o ouvido a Sua porta de entrada. Brilhe a tua coroa no céu do meu coração e concede-me as graças do seu poder.

“Hoje estarás comigo no Paraíso”. Rainha do Rosário, nestas cinco palavras o Teu Filho, ocultou os cinco mistérios do teu rosário, que se manifestam em quinze mistérios ligados ao Pai, Filho e Espírito Santo.

O teu Rosário é Um, e Trino, unificando o meu ser e a minha vontade ao Ser Uno e à Sua Divina Vontade.

Trago a mim o Céu e os seus mistérios, trago a mim a Terra e a sua abundância.

Os versos do Céu podem baixar a Lua, eleva-se o Sol quando o teu Filho ascende em nós, põe-se ao seu lado a Lua quando o teu corpo se eleva aos céus dentro de nós.’

Mãe admirável, o que eternamente é concebido, e gerado na Mente do Pai, é também concebido temporalmente, e gerado no Ventre da Mãe.

No vazio antes da Encarnação eras Maria a ‘pura para Deus’, no presente da Encarnação estiveste ‘cheia do Homem Deus’ e no futuro após a Encarnação continuas ‘gerando ao mesmo Homem, e Deus’ no nosso coração e nos corpos das nossas orações.

Nada resiste ao Teu poder, nada faz frente às Tuas forças, tudo cede ao Teu mando, tudo obedece ao Teu decreto, tudo serve à Tua autoridade. Omnipotência Suplicante.

Que mediação podemos desejar ou imaginar entre Deus e a alma humana, mais íntima, mais eficaz e mais poderosa que a da mesma Senhora, que dentro em suas entranhas uniu a Natureza Divina com a Humana, e do Homem, e de Deus fez uma só Pessoa.

És Única e Eleita, pois nem entre os anjos nem entre os homens há igual, antes, nem haverá jamais, em seguida.

Deus habitou no tabernáculo virginal do teu ventre santíssimo, e sendo já Rei da glória, e Rei nosso, ali, onde o Verbo se fez carne, ali foi feito o Príncipe do seu povo.

És a Ponte pela qual Deus desceu aos homens.

O seu poder e os seus milagres tornam-se reais por meio do Teu Ventre.

Oh Ventre Puríssimo de Maria, maior, e mais capaz que o Céu, pois a Deus, que é incompreensível, verdadeiramente O compreendeste, e trouxeste dentro de ti!

Deus te salve cheia de graça a Deus incompreensível dentro de ti mesma. Vós sois, ó Ventre Puríssimo, o que só pudestes limitar o que não tem limite; vós sois a compreensão do que tudo compreende.

Deus, que não cabe nos Céus, cabe no Ventre de uma Virgem; e O que é imenso, e incompreensível, o mesmo Ventre O abraça e compreende.

Abre o teu coração e mostra-me os segredos do teu Rosário, os mistérios do teu amor, quinze portais abriste no altar do teu coração, paredes de cristal onde o olhar da alma vê Cristo e o louva.

A minha alma vê Cristo vivo, morto e imortal, em todas as idades e estados da mesma vida, morte e imortalidade. Pelos Mistérios Gozosos vemos o Teu Filho encarnado, peregrino, nascido, apresentado, perdido e achado no Templo. Pelos Mistérios Dolorosos vemo-Lo suando sangue, coberto de feridas, coroado de espinhos, com a Cruz aos ombros e pregado nela. Pelos Mistérios Gloriosos, vemo-Lo ressuscitado, subindo ao Céu, enviando até nós o Espírito Santo, acompanhando o teu triunfo e coroando a tua cabeça.
Pelo poder destes momentos temporais, concede às nossas orações o poder dos momentos eternos, recebemos os milagres que os nossos olhos conseguem alcançar.

Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática.

Maria disse; então: Eis a escrava do Senhor, aconteça-me segundo a Tua palavra. Façam tudo o que Ele vos disser!

Guia o meu coração a pôr em prática a Palavra de Deus como tu puseste.

Os teus dois peitos ó Virgem Puríssima são duas fontes de piedade, e amor, que igualmente comunicam o leite a Justos, e Pecadores: aos Pecadores alcançando-lhes perdão, e aos justos a Graça.

Quando a Senhora trouxe a Deus no Sagrado Ventre, então O vestiu da tela de suas próprias entranhas, dando-Lhe a Humanidade; A Mulher vestiu ao Sol na terra, por isso o Sol veste a Mulher no Céu.

Deseja, ó cheia de graça, deseja: que não só tem Deus satisfeito os teus desejos, mas tudo o que quiseres, e muito mais do que quiseres, alcançarás sempre Dele.

Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria

Ricardo Gomes

Quadra do Fado

Oh alma que geme, no sonho do fado,
nas brumas da apaixonada saudade,
do amor que nunca viu, do amor que a cobriu,
de desejos e dores, de suspiros e preces.
Desconhecido amor, misterioso olhar de luar 
Possui a minha alma e rouba-me do tempo.

Ricardo Gomes

Oração Mágica à Virgem do Guadalupe

Oferece-te, ó bondosa, misericordiosa, amorosa, luminosa Virgem de Guadalupe,
que na tua paradisíaca aparição no monte de Tepeyeac, 
prometeste manifestar a tua compaixão e ternura
a todos aqueles que te amam e acreditam em ti.
Procuramos o teu auxílio e invocamos-te nas nossas necessidades e aflições.
Mãe de Misericórdia, Senhora Tonantzin, Rainha cheia de graça, 
Rosto esplendoroso que irradia a luz do Paraíso.
Ofereceste palavras de esperança, rosas de letras, com a doçura da tua paz
alivias o nosso coração das perturbações e dúvidas deste mundo.
Prometes ouvir com atenção as nossas súplicas, enxugar nossas lágrimas e entregar-nos um oceano de consolos e alívios.
Todos os que buscam a tua protecção,
Todos os que imploram o teu socorro,
Todos os que procuram a tua intercessão,
Todos os que dedicam rituais ao teu corpo feito de magia, letras e rosas de fogo,
nos seus pedidos de prosperidade, ou nas suas ansiedades pessoais, 
São por ti atendidos e abençoados.
Inspirado por esta realidade, entro na tua presença, 
ó doce e sempre Virgem Maria, Mãe do Deus Verdadeiro!
Sofrendo sob o peso dos meus erros, venho-me prostrar diante de tua sagrada presença,
Certo de que tu realizas as tuas maravilhosas promessas.
O meu espírito arde no fogo da esperança de que à sombra do teu manto e protecção, nada me será problema ou aflição, nem temerei as doenças e adversidades,
ou qualquer outro peso.
Tu, Santa Maria, Mãe que cura todas as nossas dores, misérias e tristezas,
Santa Maria, Mãe que remedia e alivia nossos sofrimentos,
Santa Maria, Mãe que nos mantém dentro do seu olhar compassivo e misericordioso.
Santa Maria, Mãe que nos abriga à sombra do seu manto protector.
Anelaste permanecer connosco através da tua radiante imagem, 
És a nossa Mãe, és a nossa saúde, és a nossa vida.
Coloco sob o teu maternal olhar que envolve a alma, 
estas preces, pedidos, intenções e rituais,
recorrendo a ti em todas as necessidades, não preciso de mais nada.
Ó Santa Maria, Mãe que mostras a tua ajuda, amor e compaixão, 
Não descuides os nossos pedidos, mas por tua misericórdia,
Ouve-nos e responde-nos.
Amén.

Ricardo Gomes

Delírio do teu corpo, és Aparição

Neste silêncio vazio de vento, és ruído vestido de estrondo,

na janela da alma.

Por essa fenda de olhar, ausência da tua imagem.

Descortino o teu corpo no devaneio do abraço,

na fantasia do beijo, no sonho do coração.

Detenho nos lábios o som do teu nome,

ainda aqui estou, todo o tempo há espera de ti.

Na ausência das tuas palavras, muitas memórias

se tornam imagens da sensualidade obscurecida.

Pelas luzes que nos rodeiam em que somos apagados.

Mas como estrelas cintilamos no negro céu da memória.

Ricardo Gomes

Alma Portuguesa

Ó que faminto beijo de mar, prazer que se esconde por debaixo das ondas,

do infinito oceano, nosso imemorial altar.

A saudade faz parte da vida, como deusa moradora do coração.

No seu exército de lágrimas, cantam-se ecos de mar,

melodias de névoa que envolvem o sublime navegar,

dos amantes viciados pelo pulsar do suspiro dos jardins.

A saudade faz parte da vida, entronizada como Imaculada Rainha,

vestida de jóias, seios de areia, corpo despido, corpo português.

Esse corpo deslumbrante, envolto de manto azul do mar,

adornado por estrelas incandescentes, com um rosário ao pescoço,

de contas feitas de suspiros e jóias portadoras de lembranças.

A Senhora Saudade,

é a portuguesa coroa, nau da fantasia,

esquadrão de caravelas, do material de que os sonhos são feitos.

Alma percorrida no sonho que é o amor, buscando ilhéus de prazer.

A ti rendemos o corpo, por uma saudade que beija o outro.

O proibido inalcançável.

Saudade que nos adormece no paraíso, despertando-nos na dor.

Ricardo Gomes

Rêver d’amant

Amor impossível, da alma vício,

fantasmas da madrugada, em lençóis envoltos,

à espreita se deitam na penumbra do sonho.

Que saudades do seu vivo olhar,

seu escondido corpo, por tocar.

Corpo incendiado por encanto e lume,

faísca dos meus olhos, morte do meu coração.

Saudades do amor amigo, pesadelo e sonho.

Sonhamos de mãos dadas,

debaixo das fortes cores de um céu que entardece.

Sonhados num primeiro alvorecer de suaves luzes.

Não é ainda a noite, a selvagem alvorada, em que o ciclo se cumpre.

Ricardo Gomes

Chama Pascal

A chama, que a vida em mim criou,
labareda de sonhos, claridade de fantasias.
Esse fogo resplandecente, que ardeu no meio das águas.

Luminosidade do desejo, oferecido na pira do meu coração.
Ardes em mim como iluminação na mente.
Vestes o meu corpo, com o brilho do teu fogo ardente.

Na inspiração deste incêndio, torna-me terra queimada.
Fértil para a semente da tua Palavra.

Meu Deus, meu fogo consumidor.

Ricardo Gomes

O Suspiro das Estrelas Cadentes

Permaneço na tristeza dos teus olhos,
habitante no silêncio dos teus lábios.
Embalas o meu corpo como um sonho por desejar.

Alma triste, alma escondida, meu olhar feito de luar,
ouve a paixão que por ti chama,
da terra onde nasce a estrela da manhã.

Percorre o caminho dos cometas
e escuta o suspiro das estrelas cadentes.

Reunidas num céu de fogo, poderiam elas brilhar
como brilham os teus olhos, a olhar para mim.

Ricardo Gomes

Debaixo de um céu de fogo

Espero pelo meu amor, debaixo de um céu de fogo, espero,
espero pelo meu amor, ardente de saudades, espero,
espero pelo meu amor, afogueado por um destino marcado, espero.

Debaixo de um céu de fogo, sou extinto na chama do suspiro.
Chamejando as palavras dos lábios, abrasando os toques do corpo, espero.

Irei cintilar com a boca a saber a Sol.
Irei flamejar no prazer de pelo meu amor ser tocado.

Pelo meu amor espero, debaixo de um céu de fogo, espero.

Ricardo Gomes

Fátima, Aurora do Místico Dia

Mãe envolta de luz, aurora que desponta no abismo da paz,

beleza do rosto do Cordeiro.

Tu fizeste-nos ver Deus, carregando-o no Teu ventre, a luz do mundo,

na nossa cegueira impossível de ver.

Mas tu és a aurora dos pecadores cegos no seu egoísmo,

iluminados por ti, Santa Maria, Aurora do nosso Deus.

Senhora mais Brilhante do que o Sol,

Alvorada Lusitana, na qual o Sol que é Cristo,

fonte radiante de calorosos amores.

Ofereces-te a tua luz aos pequeninos e tornaste-os profetas

da profecia da paz,

Tornaste-os videntes da carruagem do Sol Místico.

Corpo reluzente, ardente e emanente dos rosários entretecidos de afectos, repletos de esperança, incendiados de fé.

Serás tu a noiva do encoberto? Ou a névoa que o encobre?

Senhora do Rosário de Fátima,

abre os horizontes dos portugueses e envolve-os no teu manto profético.

Rosas incandescentes de puro fogo

ardem naqueles que se querem tornar crianças,

para poder contemplar a Face do Teu Filho na luz do teu Ser.

Senhora mais brilhante do que o Sol,

Ilumina o Rosto de Cristo no nosso coração.

Ilumina a nossa face com o nome do Rei da Paz.

Incendeia o nosso coração com o fogo que não se apaga.

Transmuta o nosso corpo no tabernáculo vivo da presença do Senhor no meio da sua criação.

Faz-nos semelhantes aos anjos, conhecedores dos mistérios.

Ricardo Gomes

Prece Mística à Virgem de Guadalupe

Guadalupana és Fénix de flamejantes lábios,
um insondável céu de mistérios por desvendar.
O crepitar das faíscas dos teus olhos é som de trovão no céu do meu coração.
Meu coração está perturbado, porque o inimigo espalhou a escuridão na minha alma.
Ilumina com o teu brilho a escuridão dos meus olhos e adoça a amargura do meu coração.
Ilumina-me, ó Senhora Tonantzin, para que a minha escuridão desapareça.
Derrama as graças dos teus tesouros e com teus unguentos apazigua a minha dor.
Afasta de mim as tribulações e adoça a minha exaustão.
Enche o meu coração com tua doçura e faz-me esquecer as misérias da vida.
Provoca em mim o desejo pelo paraíso, inebria a minha alma com alegrias celestes.
O resplendor da tua glória ilumina a mente e a luz da tua misericórdia leva à salvação.
Levanta, mãe, aqueles que caem em tentação e oferece-lhes a verdade.
É na tua face que encontro a beleza e a glória, a graça habita no teu olhar.
Honrem a Rainha cheia de graça e contemplem com reverência sua sagrada face.
Mãe de Misericórdia envolta num manto de radiantes constelações.
A luz da tua misericórdia serena os nossos corações e a doçura da tua paz alivia-nos dos tormentos do mundo.
Os teus filhos serão vestidos de luz.
Livra-me do mal e dos tormentos interiores, mantém a minha alma longe do pecado.

Ricardo Gomes

Fátima

Ó belíssima madona há estrelas nos teus olhos e segredos nos teus cabelos.
De ti nasceu a verdade porque és o Oceano das formas, o Criador te criou para dar forma à nova criação.
Sem ti a verdade não teria corpo, sem ti não veríamos a verdade, por isso dás-nos a visão nessa sublime aparição.
Teu corpo é mistério vestido de Sol adornado por anjos, teu olhar é paz profunda como o silêncio do coração de Deus.
Cheia de graça, cheia de luz, cheia de mistério, cheia de vida.
Segredo de Deus, paixão dos anjos, amor do Teu Filho, Noiva adornada.

Ricardo Gomes

Os Versos num coração amante

Quando os pássaros não cantam no meu céu, nem descansa o coração no meu peito.

Quando os navios não regressam ao meu porto, nem Deus responde às minhas visões.

O que sinto é rio que não dorme no seu leito, anda sempre a chamar por ele a voz do mar.

Ouço a voz do amor a gritar!

Não adormeces, meu coração, no peito, ouves o amor a gritar!

O meu ser estremece em vibrações divinas, como se mil mãos o abraçassem.

Ó meu saudoso olhar apaixonado,

Tu cantas, em silêncio, a luz duma canção,

Cântico que apenas pode ouvir, na calma solidão,

A luz dum outro olhar apaixonado.

Ó meu saudoso olhar que dás vida às visões,

Em ti, é claridade a essência do que existe.

És o corpo divino das imagens,

Humanizado e triste, a tentação após a queda a memória do paraíso.

Íntima luz a florescer

Na minha noite, essa infinita

E negra noite do meu ser…

Que lê os versos sagrados que anunciam que no sagrado fogo da paixão nos consumiríamos, como holocausto de delicias.

Não és a luz do amanhecer,

Tu és a luz que eu vi nascer dentro de mim,

Secreta luz, luz do mistério,

Luz que arde em dor, a mística paixão que nos torna Serafins aos pés da Toda Pura.

Ricardo Gomes

 

 

Letras num Céu de Fogo

Sou pecador sendo-o santo,

tu sabes o quanto te amo.

Ainda que amor em mim não exista aos olhos dos homens.

Sinto-o bem forte como tormenta que me rasga o peito.

Não imagino um momento, sem estar suspenso nos teus braços.

Não imagino um momento, sem ser aparição debaixo dos teus olhos.

Não imagino um momento, sem escutar essa voz que fala sem qualquer palavra.

Ás vezes não és Deus, és tudo,

tudo o que me sustenta,

a vida que me alimenta.

Ainda que estes lábios toquem carnais humanos,

quando teu corpo tocam em pureza se transmutam, no paladar dos anjos.

Corpo de glória, suspiro do meu anseio.

Neste corpo és adorado,

neste corpo toco-te e sou tocado,

no coração escuto e sou escutado,

para lá do som, longe de tudo.

Nada mais desejo, nada mais quero,

que ser oração em pétalas e fumo,

rosa de contemplação, embalo de canção.

O silêncio do barulho, o fim do mundo.

Ricardo Gomes

A Carta do Adeus

Hoje vou partir, para bem longe, para um lugar onde ninguém me pode ouvir.

Deixei de acreditar que era possível viver sem este adeus, que hoje te entrego.

No silêncio e no desprezo desta nossa humanidade, jaz a grande verdade, que uns são bons por natureza outros são maus por estupidez.

Não sentirei falta daquilo que nunca tive, dos sonhos que nunca sonhei, das visões que nunca vi.

Não sentirei falta daqueles que nunca conheci, das ilusões dolorosas que deram forma aos meus pesadelos.

Não sentirei falta do abismo e da humilhação, por isso adeus.

Adeus para sempre, e se não estive até aqui consciente da necessidade deste adeus, hoje não poderia estar mais convicto que sem o entregar não terei paz nem conhecerei a felicidade.

A felicidade não se oculta na indiferença e na frieza calculista dos ignorantes, a felicidade surge na coragem de amar, na audácia de abraçar, na pureza de sentir.

Porque a nobreza do sentir inspira-se na glória do céu, a vergonha do orgulho escurece a alma com o medo do inferno.

Talvez eu conheça bem demais o céu para saber que não entendes os seus desígnios, mas nada disso importa, porque hoje só te posso entregar o meu adeus.

Desisti de acreditar na ilusão, nada mais me resta a não ser a fantasia que anestesia a realidade e me impede de ver a verdade.

Aí não há amor, não há desejo, não há boa intenção, nem há verdade.

Somente o vazio e a ilusão, somente a ausência de palavras e de afectos.

Somente a falta de respeito e de honra, hoje ofereço-te este adeus, arrancado das profundezas do meu coração.

Finalmente serei livre, e no meu vazio serei feliz porque ninguém me irá magoar ou iludir.

Ricardo Gomes

Será Pecado?

Será pecado este fogo que arde, esta mudez que invade todos os discursos do coração?

Estas lágrimas que choro, que me escorrem pela alma revelando-te apenas a indiferença que finjo.

Porque fazes falta se na verdade nunca estiveste presente, nunca me pertenceste nem me aceitaste?

Será pecado esta saudade que dói no mais íntimo do meu ser, como um pesadelo que atormenta as sombras dos meus sonhos.

É vazio que se desenha no horizonte ausente do teu olhar, é oração sufocada num templo de deuses mudos.

Se soubesses o efeito da tua presença, se conhecesses a alegria da tua atenção, compreenderias os silêncios das minhas vãs palavras.

 

Ricardo Gomes

A fantasia das estrelas

Entrego-me a esta dor secreta que dilacera o meu peito.

Despido de tudo, só posso ser eu próprio, mas quem sou eu?

Se não fechar os olhos e contemplar as paisagens da felicidade.

O toque das tuas mãos, o som da tua voz, a forma como o teu olhar veste a minha alma.

Serei vestes luminosas usadas por escura galáxia,

esconderei segredos assustadores, negras verdades?

Serei a ânsia, o desejo de ser vestido e formado pela magia dos teus olhos?

Serei o infinito negro e confuso cheio de estrelas perdido no espaço?

Não sei, talvez nunca saberei, mas por tua causa poderei buscar a resposta, percorrerei as estrelas se prometeres que vais olhar para o céu.

Viverei apenas na escuridão da noite, se não fugires das minhas trevas, e aceitares brilhar em mim como a suavidade da Lua brilha à noite.

Ricardo Gomes

A Desejada por Deus

Mulher que te vestes de fogo, pisando a lua.

Coroada por estrelas, entronizada pelo universo.

Tuas vestes feitas de mar, encantos sem par.

Bendita sejas, Mãe de bendito olhar.

Por ti as noites mudam, por ti os anjos se apaixonam.

Mulher Imaculada, mãe apaixonada.

No refúgio dos teus braços cresceu o salvador.

No teu útero foi gerada em carne a suprema verdade.

Mãe da verdadeira luz, eclipse do nosso orgulho.

Tu és beleza.

Tu és mansidão.

Tu és pureza.

Ave, luz de Deus.

Ave, lâmpada do Cordeiro.

Ave, suspiro da Trindade.

Mulher perfeita, por Deus desejada.

Mãe amorosa, por Jesus amada.

Mulher flamejante, beijada pelo Espírito Santo.

És o reflexo nítido da bondade de Deus,

Rainha de Israel.

 

Ricardo Gomes

Ode dos Cegos de Amor

Como conquistar sem escudo e sem armas? Pergunta o amante.

O meu coração não tem muralhas nem guardas, mas há muito deixou de bater para conseguir receber amor. Responde o amado.

Se pudesse ressuscitar o teu coração, se pudesse despertar cada batida de bom grado ficaria cego. Diz o amante.

Meu admirador sou um jardim fechado sem fragrância perfumada, uma vida vazia sem esperança no orvalho do amor. Suspira o amado.

 

O Cântico do Amante

Eu colheria uma rosa digna para o meu amor;

Eu arrancaria uma rosa vermelha brotando.

O amor está no meu coração – tentando assim provar

o que o teu coração sabe.

Eu arrancaria meu dedo de um espinho,

eu arrancaria um dedo sangrando.

O vermelho é meu coração ferido e desamparado;

E teu coração que precisa.

Eu segurava um dedo na minha língua,

Gostaria de aguentar um dedo.

Dói-me o coração, até se juntar à música,

Enquanto o teu coração copula.

Já te ofereci o meu olhar, se me pedires receberás as minhas palavras e com mais ninguém falarei, porque só a ti o meu coração deseja dirigir-se.

O amado fugia nos seus silêncios esquivos não tanto do amante mas do amor que este lhe queria oferecer. O amor que o incomodava não porque não gostava do amante mas porque não conseguia sentir nem receber esse amor.

Porque o amor é uma chama que consome, uma dor que abrasa no seu prazer, um holocausto digno dos céus. O amor é a inveja dos deuses e dos anjos, porque quando o homem ama, entrega-se mais ao amado do que qualquer Deus se entrega a humanidade. O amor é o poder do homem, apenas os homens podem amar de uma forma digna do que é mais elevado.

O amante não compreendeu o amado e ofereceu lhe os olhos como sacrifício derradeiro, ao cair no jardim o sangue do apagado olhar, a fragrância das flores e das rosas formou um nevoeiro que envolveu todo o jardim.

A dor e o derrame comoveram o amado que prontamente segurou na mão do amante e guiou os seus passos até ao lugar de repouso.

Ai permaneceu deitado com dores na escuridão total mas com um sorriso nos lábios porque a voz do amado era o Sol mais belo para o qual ele olhara. O toque do amado era o vento mais suave que ele tinha sentido na sua pele. A beleza do amado era agora mais clara, mais real, era a sua própria presença.

O amado chorou pelo amante sentindo-se culpado e nestas lágrimas sentiu o coração a palpitar, sentiu a vontade de cuidar e guiar essas corajosas mãos que se sacrificaram por amor. Levantar as quedas dessa doença a que chamamos sonhar. Agora ele sentia-se livre e sentia tudo, o calor do amante, o seu sorriso, a sua felicidade.

Na escuridão do amante o amado brilhou como uma luz indescritível apenas contemplada por quem vê na escuridão. Ambos se entregaram ao amor.

 

Cântico do Amado

Sou as tuas mãos, os teus pés,

Sou os teus lábios, o teu olhar,

Sou o teu calor, o teu desejo,

Sou a fantasia que se fez carne.

A prova do Paraíso.

Sou o amor que permeia o universo, o ódio que o destrói

Sou o fogo que renova todas as coisas, num ciclo de eternidades

Incendeio o teu coração e mostro-te vezes e vezes sem conta que estás morto.

Apenas descobres a vida quando te rendes na minha presença.

A minha voz desperta os que dormem.

 

Ricardo Gomes

Being in Love

Sente-se como fogo,

estar apaixonado por ti é ferir a alma.

 

Esta força do alto, desejo flamejante, que me despe de palavras numa nudez de saudade.

 

Quero ir mas tu fazes-me ficar, o amor é um campo de batalha.

 

Quando perco o controlo, quando me rejeitas.

 

A força que não encontro, a certeza que não conheço.

 

Arrebata-nos do corpo, para um momento sublime.

 

Algures no teu coração, envolvido nos meus braços sentes os meus lábios a beijar a tua alma.

 

Em labaredas de fogo permaneço hipnotizado pela beleza do teu sangue.

 

O teu toque é gelo que fere o calor do meu ser.

 

Sou o poço onde alguns se sentam ao redor,

o poço por onde entras para beber a água que borbulha.

 

Borbulha nos teus lábios a fricção do gelo em chamas.

 

Porque a tua frieza inspirou a beleza do paraíso.

Os meus sonhos permanecem vazios, na ausência das tuas asas, a minha alma vai morrendo.

O amor é como um rio a correr pelo meu interior, destruindo o equilíbrio dos meus órgãos.

O amor é perigo e prazer, estar apaixonado por ti é o único tesouro.

O poder do amor, os céus abertos por chamas flamejantes de desejo superior que purgam o meu coração.

Ricardo Gomes